segunda-feira, 14 de maio de 2012

crítica de Rebecca Hodesh Muniz



A peça, com uma história ótima, mostra uma mulher solitária que recebe em sua casa outras três pessoas que sofrem de solidão para uma análise grupal, onde eles tentarão resolver seus problemas.
Desde os primeiros momentos, até o fim inacreditável da análise, as cenas oscilam entre o presente e o passado dos personagem, passando pela vida problemática de cada. Enquanto um conta suas experiências, os outros três atores interpretam outras pessoas, numa espécie de flashback, dando uma dinâmica incrível à peça, já que as histórias surgem, se cruzam e modificam-se rapidamente.
Para haver toda essa mudança drástica de ambiente, o espaço teve de ser muito bem aproveitado. Percebe-se que os atores, durante os flashbacks, seguem uma marcação detalhada, onde é preciso sair do primeiro plano e entrar novamente pouco depois portando outro personagem.
Como o processo de criação do espetáculo foi na base do improviso, o texto me chamou muita atenção. Ele reúne todos os dados adquiridos durante a criação das cenas de uma forma muito competente, pois cada personagem concluído possui uma identidade bem definida, e apesar de todas as mudanças encenadas, permanece coerente.
Os diálogos ironizam as situações da peça, transformando o que seria a solidão insuportável de um indivíduo em algo cômico, hilariante.
A platéia também consegue acompanhar o texto, que é muito bom e repleto de humor negro, sem se perder nas reviravoltas da história.
A iluminação é essencial para o ambiente. Básica, tendo como elemento principal um lustre que ilumina parcialmente o palco, e não muito colorida (assim como os objetos em cena), ela precisou dar um ar razoavelmente sombrio, como se a solidão desgastasse não só a proprietária, mas sua casa também.
No decorrer da análise, há uma mudança súbita onde os quatro atores (incluindo a mulher organizadora do grupo, dona da casa, que se envolve intensamente e compartilha seus problemas, igualando-se aos demais) irão tentar mudar seus respectivos passados, criando hipóteses, trocando pessoas, ações e falas que seriam cruciais para mudar o rumo de suas vidas.
Nessa grande virada, o ritmo do espetáculo ganha velocidade surpreendente. Os objetos mudam de lugar, a iluminação faz sua primeira grande mudança, onde o lustre desce e bolas coloridas acesas são acrescentadas as laterais do palco, entre outros efeitos (como uma fumaça mais carregada) dando um ar um tanto quanto fantasmagórico ao momento.
As situações tornam-se mais surreais do que já eram, os personagens surgem e desaparecem, falas são trocadas e modificadas, sem o público se perder, é claro. Esse deve ter sido, acredito eu, o maior desafio da montagem.
A morte de um dos membros da reunião é essencial para o final inteligente e cômico do espetáculo, onde os outros três irão tentar viver uma vida nada convencional em “família”, numa tentativa desesperada de afastar a solidão de uma vez por todas.

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